Jorginho dos Santos Mello tem uma trajetória improvável na política catarinense. Jorginho de batismo, nascido de sete meses, porque o pai achou que “não ia vingar”. Vingou. Menino, vendia os doces feitos pela mãe na praça da Estação Ferroviária, em Herval d’Oeste. Ainda adolescente, foi eleito vereador. Adulto, teve uma longa carreira como bancário antes de construir uma sólida sequência de mandatos eletivos nas última três décadas – quatro vezes deputado estadual, duas vezes deputado federal, senador.
Décio Nery de Lima superou as sequelas da poliomielite da infância, que até hoje limita seus movimentos. Com bom humor e uma ferrenha militância política, encarando as urnas logo aos 22 anos na primeira disputa do Pt em Santa Catarina, em 1982. Depois, tornou-se uma das referências do partido no Estado no período anterior à chegada ao poder em Brasília. Foi prefeito de Blumenau entre 1997 e 2004, depois deputado federal por três mandatos. Concorre ao governo pela segunda vez.
Jorginho Mello e Décio Lima disputam o governo de Santa Catarina e têm biografia para isso. Ambos têm respeitáveis carreiras políticas, erros e acertos, nuances de personalidade que permitem que sejam projetadas qualidades e defeitos de um governo estadual nas mãos de um deles. O segundo turno das eleições catarinenses de 2022, no entanto, deixa de lado esses dois personagens. A disputa marcada para dia 30 de outubro, domingo, será travada entre O Candidato do Bolsonaro e o Candidato do Lula, o 22 contra o 13.
O segundo turno entre os postulantes do Pl e do Pt é uma consequência direta da polarização política nacional entre o presidente Jair Bolsonaro (Pl) e o ex-presidente Lula (Pt). Uma disputa que apaixona milhões, desperta ódios e medos, mobiliza o pior e o melhor do eleitorado. Não há espaço para discutir outros nomes – como esperavam os defensores de uma terceira via no primeiro turno. Nem mesmo na disputa estadual essa margem existe.
Quem vê a propaganda eleitoral de Jorginho e Décio, fora uma ou outra promessa, pode achar que está vendo a continuação dos programas de Bolsonaro e Lula. O candidato do Pl foi puxado pelo 22 no primeiro turno, junto com um senador (Jorge Seif), seis deputados federais e 11 deputados estaduais eleitos. Mesmo sem onda semelhante, Décio também deve a condição de primeiro petista em um segundo turno para o governo de Santa Catarina à vinculação com Lula.
No início da segunda volta, a primeira rodada de pesquisas do Instituto Mapa, contratado pela Jovem Pan News de Florianópolis, indicou que a eleição ainda não estava completamente nacionalizada. Bolsonaro aparecia com 38,5 pontos de vantagem sobre Lula, consolidando o cenário apresentado no primeiro turno. Jorginho também liderava e se apresentava como favorito, mas com margem mais estreita – 25,5 pontos sobre Décio.
A nacionalização da disputa mudou a forma como foi travado o segundo embate no Estado. Normalmente, seriam disputados a tapas – e cargos prometidos – os apoios dos demais candidatos que pontuaram no primeiro turno: o governador Carlos Moisés (Republicanos), o ex-prefeito florianopolitano Gean Loureiro (União Brasil) e o senador Esperidião Amin (Progressistas). Os dois primeiros mantiveram o silêncio no segundo turno, enquanto Amin mandou dizer lá de Brasília que respeitava a posição do partido de aderir a Jorginho. Foto, até agora, nenhuma.
Esse apoio dos demais candidatos tornou-se irrelevante porque o respaldo que importa são de Bolsonaro e de Lula. Em nenhum momento, Décio tentou fazer sinais ao eleitor que vota Bolsonaro, nem Jorginho os fez com os lulistas. A estratégia de ambos é trabalhar para aumentar a votação do presidenciável e, por tabela, a sua. Por isso, Santa Catarina vive esse segundo turno monótono que meramente reproduz a disputa nacional no Estado.
Essa tendência foi confirmada nas rodadas seguintes do Mapa, especialmente a pesquisa divulgada nesta quarta-feira. Jorginho Mello ampliou a vantagem sobre Décio, que passou para 38,1 pontos – 66,9% a 28,8% nos votos totais (2% apontaram branco ou nulo, enquanto 2,2% se disseram indecisos). A vantagem de Bolsonaro também ampliou, mas mais próximo de um cenário de estabilidade: são 42,4% pontos de diferença, que significam 69,5% a 27,1% (2,3% brancos e nulos, 1,1 indecisos).
A pesquisa mostra que o avanço da campanha eleitoral do segundo turno só serviu para o eleitor de Bolsonaro identificar Jorginho e de Lula achar Décio. É dois 22, é dois 13. Nos próximos quatro anos, a biografia já consolidada de um deles, provavelmente Jorginho, ganhará seu capítulo mais relevante. Será no governo que o catarinense vai conhecer o governador que elegeu. Como aconteceu com Carlos Moisés a partir de 2019.
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Foto: Alejandro Zambrana, Secom Tse.