Existe um verso de Chico Buarque que cai muito bem no contexto político deste início de ano eleitoral:
Não se afobe, não,
que nada é para já
De fato, a corrida pelo governo do Estado começa realmente a clarear no início de abril, quando o calendário eleitoral impõe três datas relevantes para partidos e postulantes. A mais importante para o contexto da disputa estadual é o fim do prazo para renúncias de prefeitos que pretendem disputar as eleições: 2 de abril. É quando saberemos se Gean Loureiro (Democratas de Florianópolis), Antídio Lunelli (Mdb de Jaraguá do Sul) e Fabrício Oliveira (Podemos de Balneário Camboriú) continuam aptos para o jogo.
No mesmo dia também termina o prazo para a composição das federações partidárias. É um instrumento novo, que permite que partidos disputem juntos as eleições – desde que a união valha em todos os Estados e municípios por quatro anos. Um prato feito que pode ser difícil de engolir. Hoje, a tendência é de que apenas os partidos de esquerda se agrupem, mas é bom ficar atento ao cenário.
Na véspera dessas duas datas, em 1o de abril, termina o mês de janela partidária para deputados federais e estaduais trocarem de legenda. Também é uma data importante para clarear o cenário eleitoral, porque a destino dos transfugas indica em que projeto deverão estar.
Encerrado abril, as negociações continuam em outro patamar: cada partido terá seu nome e projeto, mas nem todos caberão no tabuleiro. Começa, então, o jogo de promessas, apostas e blefes que resultará, enfim, na formação das chapas para a disputa pelo governo. A tradição política catarinense é que essa etapa dure até o limite do calendário eleitoral – se possível até as últimas horas. Essa data, a mais importante de todas, é 5 de agosto.
Por isso, resgatei Chico Buarque e sua falta de pressa nos versos iniciais de Futuros Amantes. Não esperem grandes definições políticas em janeiro e fevereiro. O que temos são muitas conversas e tentativas de gerar fatos que demonstrem força. Nesta quarta-feira, por exemplo, o governador Carlos Moisés (ex-Psl) reuniu em sua mesa um time político de peso para assinar a adesão de Criciúma ao Plano 1000. O prefeito Clésio Salvaro (Psdb), os deputados estaduais Júlio Garcia (Psd), Ada de Luca (Mdb) e Luiz Fernando Vampiro (Mdb, licenciado para ocupar a Secretaria Estadual de Educação), além dos secretários Paulo Eli (Fazenda) e Eron Giordani (Casa Civil).
Por mais que a imagem desse grupo às gargalhadas espalhe no ar um cheiro de tríplice aliança, ainda há muitos pontos a ajustar. Mdb, especialmente o da Alesc, quer estar com Moisés e deve estar. Falta construir o modelo e dar um jeito de enterrar as prévias marcadas para 19 de fevereiro. Clésio é a ponte do governador com os tucanos – uma ponte que precisa ser cruzada com cuidado para não atrelar Moisés à candidatura presidencial de João Dória (Psdb). Júlio Garcia, apesar dos sorrisos, hoje está mais longe, ligado ao projeto de Gean Loureiro através do ex-senador Jorge Bornhausen. A foto não muda essa geografia inicial.
O prefeito de Florianópolis, por sua vez, também conversa e produz fotos. Na terça-feira, esteve com Fabrício Oliveira. Ambos são pré-candidatos a governador cercados de dúvidas sobre viabilidade pela pequena estrutura partidária que possuem. Nessa corrida, Gean tem mais atributos para atrair uma ampla aliança que garanta uma presença forte no horário eleitoral que possa compensar a dificuldade de penetração no interior no Estado. Sonha com o Psd e conta com Júlio Garcia e Bornhausen para construir uma solução. Eles trouxeram o ex-governador Raimundo Colombo (Psd) para a mesa – ele que é pré-candidato ao governo, mas não desdenha o Senado. Nessa mesa não senta Eron Giordani, que continuará na construção do projeto político de Moisés.

Gean e Fabrício trocam figurinhas. Em abril precisarão renunciar aos cargos de prefeito para continuar jogando um jogo que só terminar em agosto, nas convenções que confirmam quem será realmente candidato a governador. Foto: Ivan Rupp, Divulgação.
É tempo de conversas, mesmo entre prováveis adversários. Semana passada, os senadores Jorginho Mello (Pl) e Dário Berger (ainda Mdb) conversavam sem preocupação de não serem vistos no Continente Shopping, em São José. Era a troca de figurinhas entre o provável candidato do bolsonarismo e aquele que pode liderar uma frente de centro-esquerda, se consumar mesmo a filiação ao Psb. Semana passada, alguns ficaram chocados com o uísque que Bornhausen e o petista José Dirceu tomaram poucos meses atrás na Praia Brava, em Florianópolis. Quem só conversa com os seus, não sabe nem sobre os seus.
Deixo a canção do Chico para você, leitor. 2022 será um ano longo, como todo ano eleitoral.
Sobre a foto em destaque:
Carlos Moisés recebe o prefeito Clésio Salvaro e deputados estaduais de Criciúma para assinatura de adesão do município ao Plano 1000. Serão repassados R$ 219 milhões em cinco anos. Foto: Divulgação.